Taxonomia de Bloom Revisitada (2.0): Integrando Habilidades Humanas e Inteligência Artificial
A Taxonomia de Bloom, criada na década de 1950 e revisada em 2001, sempre foi uma das ferramentas mais utilizadas na educação para planejar objetivos de aprendizagem, alinhar atividades e avaliar níveis cognitivos, do “lembrar” ao “criar”.
Mas em 2024, diante da ascensão das inteligências artificiais generativas (GenAI), pesquisadores da Oregon State University (Ecampus) revisitaram essa estrutura clássica, propondo uma nova leitura: uma Taxonomia de Bloom integrada à IA.
Uma atualização necessária para o século XXI
A equipe da OSU compreendeu que, com o avanço de ferramentas como ChatGPT, Claude, Gemini, os processos cognitivos humanos na educação precisavam ser reinterpretados. Uma das questões necessárias de reflexão para o ensino não é mais apenas o que os alunos aprendem (ou como aprendem), mas como o uso da IA pode suplementar (e não substituir) as habilidades humanas.
O resultado foi a criação do documento “Bloom’s Taxonomy Revisited”, uma tabela comparativa que mantém as seis categorias clássicas da Taxonomia (Lembrar, Compreender, Aplicar, Analisar, Avaliar e Criar), mas acrescenta uma nova dimensão:
Como as ferramentas de IA podem apoiar e ampliar, sem eliminar, o papel humano em cada uma dessas etapas.
Habilidades humanas x apoio da IA
O modelo atualizado destaca que:
Lembrar continua sendo uma função humana essencial, mas a IA pode ajudar na recuperação rápida de informações e na organização de cronologias.
Compreender ganha apoio com IAs que traduzem, exemplificam e adaptam conceitos.
Aplicar pode ser facilitado quando a IA sugere métodos, analisa erros e orienta soluções.
Analisar e avaliar podem tornar-se espaços de colaboração entre pensamento humano crítico e o poder de processamento de dados da IA.
Criar, o nível mais alto, é reafirmado como território distintivamente humano, onde a experiência, a intuição e a sensibilidade são insubstituíveis e a IA pode atuar como parceira de ideação, e não como autora.
Tradução e acesso em português
Reconhecendo a importância dessa atualização para educadores brasileiros, traduzimos e disponibilizamos gratuitamente a versão em português da tabela oficial revisitada.

Versão original (em inglês): 🔗 ecampus.oregonstate.edu/faculty/artificial-intelligence-tools/blooms-taxonomy-revisited
Um convite à reflexão
O uso da IA na educação exige uma abordagem ética e prudente, conforme orienta o Manual Prático: Uso Ético de Inteligência Artificial Generativa para a Educação (Accioly & Fávero, 2025).
É importante evitar extremos: não rejeitar completamente as possibilidades tecnológicas, mas também não transferir às IAs as decisões pedagógicas ou as funções cognitivas humanas.
O equilíbrio deve ser buscado na integração consciente entre eficiência tecnológica e cognição humana. Nesse contexto, o professor preserva seu papel de mediador crítico, o aluno é conduzido ao uso responsável e reflexivo das ferramentas digitais, e as instituições assumem o compromisso de estabelecer políticas claras sobre autoria, integridade acadêmica, proteção de dados e formação ética no uso da IA.
Essa nova versão da Taxonomia não é apenas uma atualização teórica, é um convite à reflexão e prática consciente. Ela estimula professores, coordenadores e designers educacionais e todos os profissionais da educação a repensarem suas atividades e avaliações, identificando:
- o que deve continuar sendo exercitado como competência humana (reflexão, ética, empatia, criação);
- e o que pode ser amplificado com o uso da IA, tornando o processo de ensino-aprendizagem ainda mais eficiente e significativo.
Em outras palavras, o desafio agora é ensinar os alunos a pensar com a IA, e não a deixar de pensar por causa dela.
Referências
ACCIOLY, M. V. F.; FÁVERO, R. da P. Uso Ético de Inteligência Artificial Generativa para a Educação: Manual Prático. Instituto Federal do Espírito Santo, 2025. Disponível em: https://cefor.ifes.edu.br/index.php/component/content/article/2-uncategorised/17587-acoes-de-inteligencia-artificial-no-cefor?start=5. Acesso em: 23 out. 2025.
ZAPHIR, L.; McGRATH, D.; KHOSRAVI, H. (2024). How critically can an AI think? A framework for evaluating the quality of thinking of generative artificial intelligence. arXiv:2406.15969. Disponível em: https://arxiv.org/abs/2406.14769. Acesso em: 23 out. 2025.
OREGON STATE UNIVERSITY ECAMPUS. Bloom’s Taxonomy Revisited. Corvallis, [2024]. Disponível em: https://ecampus.oregonstate.edu/faculty/artificial-intelligence-tools/blooms-taxonomy-revisited/. Acesso em: 23 out. 2025.